terça-feira, 9 de abril de 2013

No Core...

     Hoje eu escrevo como quem desce um rio.



     Descendo o rio sem bóia nem barco, simplesmente seguindo o fluxo.

     Desde que nascemos vamos aprendendo a viver. Primeiro aprendemos a andar e falar. Depois a expressar nossas necessidades de forma mais refinada: ao invés de chorar e berrar aprendemos certos conjuntos de palavras como por favor e obrigada que trazem o que queremos de maneira até mais rápida e fácil. Só que depois disso fica bem complicado. Depois que entramos na escola, entramos também em contato com o convívio social, com o estudo dos escritores renomados e com a idéia de que o que estudamos é VERDADE, assim como acreditamos na idéia de que o que os nossos pais nos ensinam é VERDADE. E aí na adolescência a coisa descamba de vez, quando dessas verdades saem muitas mentiras, e então ficamos conflitados com a pergunta: Qual é a verdade? De verdade? Aí começam os conflitos com pai, mãe, família, parentes, amigos e até desconhecidos ou os próprios escritores renomados (de todas as áreas de conhecimento). Aí entramos na faculdade e descobrimos que o mundo funciona de maneira que nunca pensamos ser: estudamos milhares de textos, milhares de pontos de vista, percebemos que apenas alguns poucos nos tocam, e que os professores querem que saibamos e entendamos sobre todos. E ainda que saibamos articular aquilo que os textos dizem, e chamam a isso de "raciocínio crítico". Saímos da faculdade com diploma, o que não é garantia de nada, já que alguns trabalham na área, outros resolvem fazer outra faculdade e outros trabalham com algo que não tem nada ver. E continuamos a nos perguntar, munidos de algumas verdades: qual é a verdade?
     Ao menos uma vez na vida se passa por nossa cabeça: a vida é justa? A vida é certa? Todos os conceitos que aprendemos com a titia tetéia caem por terra. "Não jogue o lixo no chão", enquantos vemos os porcos (que podem ser nossos próprios pais) fazendo o oposto. Peça por favor e diga obrigado, e é o que menos vemos nas ruas. Só que a maioria aprende isso, não aprende? Então porque reproduz o oposto?
     As pessoas aprendem uma verdade subliminar e condicionada pelo meio, que é a "verdade silenciosa" que permeia a humanidade. "Faça isso e seja aceito". Fumar faz mal à saúde. Beber pode acabar com seu fígado. O que mais vemos são os jovens aprendendo a beber (NA FACULDADE PRINCIPALMENTE). "Se você não bebe, não é adulto, é uma criança!", e aí vemos jovens morrendo na volta pra casa da boate e dizemos "Que absurdo, bebendo e dirigindo...". Temos modelos de comer corretamente. Pergunte o que mais vemos nas ruas? Fast food. É Mc Donald's, Bob's, Burger King e Domino's que não acabam mais! E é no mundo inteiro! Onde comer corretamente? Nos restaurantes que cobram bem caro por isso, em muitos lugares. E o sono, onde fica? Não posso dormir, tenho que acabar de fazer isso e isso ou "Não consigo dormir. Estou com insônia". E a procrastinação? Se tornou suuper normal.
     E você? Onde entra nisso? Depende de onde está. Mas uma coisa eu posso dizer: sofro muito com isso diariamente. Pra mim muitas coisas são incômodos: a rua cheia de barulhos, crianças da escola pública gritando, buzina de carros, motoqueiros que fazem mais barulho que tudo, pessoas gritando (sabe-se lá por que motivo). Ônibus lotado, motorista que dirige rápido/devagar demais, família que não fala a minha língua, família que não colabora pra convivência e embarrera o seu caminho ao invéz de ajudar, falta de amigos, excesso de leituras pra faculdade que não fazem o menor sentido pra você, o sentimento de que algo está errado, fora do lugar, talvez você, a falta de entender como as pessoas se relacionam e que quando você dá um sorriso elas podem achar que você é falsa. Fora isso, milhões de coisas pra fazer e a sensação de que você não vai fazer metade delas, primeiro porque não sabe como fazer isso, segundo porque pode não lembrar de fazê-las ou ter algum imprevisto, terceiro que não vai planejar bem, quarto que cada dia é um dia e traz supresas, você pode mudar o plano ates até mesmo do meio-dia.
     E essa necessidade....essa necessidade de fazer alguma coisa. De ser alguma coisa. De ser alguém importante, de honrar as suas experiências e a sua família. De viver com conforto, bem-estar e felicidade. Sempre se adequando aos modelos expostos pela t.v., revistas, séries e filmes (de preferência americanos).
     Mas também não posso negar as coisas boas que aprendi: os bons documentarios e filmes que vi, os bons amigos que fiz e as experiências boas que tive, os sonhos que realizer, as VERDADES que aprendi, o amor que compartilhei, as idéias que criei, as músicas que ouvi, os lugares que visitei, tudo isso no meio dessa bagunça toda, teve o seu valor. Então, no que eu devo focar? No BOM ou no RUIM do que aconteceu? A escolha é só minha. A escolha que faço o tempo todo, a cada momento. A escolha de estar presente e inteiro no que estou fazendo.
     O que é 1 dia pra uma vida inteira, seja um bom ou mal dia? O que fica de tudo o que você viveu?Resposta: é aquilo a que você dá importância.
     Nesse momento da minha vida eu me sinto tão confusa, tão exposta a tantas vias de conhecimento, a tantas verdade, a tantas coisas boas e ruins. Como decidir? Como fazer a minha vida melhor? Acabei de ver um vídeo onde um rapaz dizia que a informação hoje não vale quase nada (An open letter to educators- youtube), mas eu discordo dele. Informação hoje vale mais que ouro, porque a internet é livre, mas só tira o melhor dela quem sabe ONDE procurar, e mais especificamente O QUE procurar. Se você não sabe pelo que procurar, como vai achá-lo? Você que tal coisa, mas como achá-la? Entende?
     Percebi que é um desperdício pensar no que nao tenho, no que não sou, no que não é, no porquê das coisas... E mais vale pensar no que  EU QUERO e ir atrás disso.
     Mais do que tudo eu sinto a necessidade de ME ABRIR. E eu me fechei. Me fechei muito, porque fui machucada. Machucada por pessoas que fizeram de mim o pior do que eu podia ser, e que eu nem era. Me chamaram de feia, de gorda, de imprestável, de incapaz, de preguiçosa, me enganaram, amigos me traíram....Mas olha o que ficou: a verdade de recomeçar. E olha como eu mudei... Hoje também assisti um filme sobre o nazismo ( O Leitor) e pensei na fala da mulher que era filha de uma judia que foi a única sobrevivente de um incêndio em uma igreja, onde todos morreram menos ela...Ela disse que não podia perdoar a mulher que fez isso com a mãe dela. Só que a mulher que foi condenada pediu que lhe entregassem dinheiro para usar como quisesse. Eu pensei sobre o que fica da dor....O que fica do ódio por uma pessoa que te fez mal. Será que bater numa pessoa realmente tem a capacidade de retirar o ódio em seu coração e ensinar a lição que a pessoa merece? E pagar na mesma moeda? Será que funciona? Essa é uma noção muito difícil de aprender nos dias de hoje, porque é olho por olho, dente por dente, pessoas que se machucam diariamente e não veem as coisas melhorar em suas vidas em função disso. Até porque a vida é cheia dessas idas e voltas do mundo. Vemos pessoas terríveis ficarem impunes e pessoas inocentes serem punidas, e nos perguntamos da justiça nisso tudo. Mas o que eu pensei é que a dor não traz nada, apenas a lição nela imbutida. Por mais que você tenha sido machucado, o que fica disso na sua vida? Ou a dor de se agarrar a isso pra sempre, ou a força pra deixar isso ir e seguir em frente. As experiências que você vive te moldam, mas você tem a capacidade de decidir COMO te moldam. Você também tem a capacidade de sempre se renovar, mesmo que você tenha mais de 60 anos. Qualquer idade é idade pra VIVER. E a vida transcende tudo isso. A cada esquina vemos superações, histórias pra contar, símbolos da transformação seja emagrecimento, seja filosofia, seja auto-ajuda ou fato histórico. O micro. E o macro. Sempre se interinfluenciando. E assim concluo que não estou só. Então porque ter medo? Navegar é preciso. Mesmo sem barco, mesmo sem bóia, seguindo o fluxo do rio. As pessoas não entendem que sua história é muito preciosa. Elas não se dão o valor. Não entedem que seus erros são pérolas que enriquecem suas vidas. E os acertos também. Pérolas, pérolas de igual valor. E assim chegamos na síntese do viver. Um pouco como estóicos, um pouco como algo que nunca se viu na vida até agora. Completude. Oneness.

    

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